Já faz uns 9 anos.
Voámos no meu Volvo direcção a Sul, como era hábito.
Nesse dia, e porque tudo estava ao cronometro, nem o Caranks levámos.
Tínhamos combinado entrar da pedra. Desta vez o nosso companheiro de aventuras ficava à sombra na garagem.
Era talvez a quarta ou quinta vez que o Fábio entrava no mar.
Andava praticamente na fase do começar a conseguir apanhar uns peixes.
O destino era o máximo que poderíamos pedir para um dia de mar.
Durante a viagem, mais uma ou duas lavagens ao cérebro que eu sempre aproveitava para fazer, sobre técnica de caça.
Ao chegarmos, Ele (o mar) estava quase parado, limpo, brilhava com o sol a pique.
Com a conversa as duas horas do percurso nem existiram.
A maré estava no ponto ideal para entrarmos.
Direccionámo-nos para o lado Sul, para a zona em que a pedra no fundo é mais alta, e onde o peixe é mais abundante, embora longe.
São 45 minutos a nadar, pas, pas, pas.
Este local, quando o conheci há uns 20 anos era totalmente selvagem.
Só poucos pescadores e a apanha de alga por ali se aventuravam.
Enquanto rumamos à coutada, um mergulho aqui outro ali, um peixe aqui o outro ali…por fim.
Entramos na zona de espuma, muita, muita, ondas muito fortes passam cima das pedras lajadas, ideal.
Mar calmo fora, a encostar com alguma força.
Sente-se aquela adrenalina, que só estes momentos conseguem.
Estou com barbatanas C4 e arma de 90, fato total de 5mm , 6kg no lastro.
O Suunto Stinger já marcava 20 e poucos mergulhos, ao chegar ali.
Á superfície não nos conseguimos ver senão por breves momentos, motivado pela vaga, alternamos
Estamos perto, não distamos 10 metros um do outro.
Executamos uma série de tiros com grande eficiência.
Recordo que de um dos lados da pedra, estava o maior cardume de Pampos que vi até hoje, com grandes peças entre eles, talvez alguns com 2,5kg.
Passei a chamar a esta pedra, a pedra dos Pampos.
Não atirámos a nenhum, estávamos ali por outras razões.
Ao fim de talvez uns 30 minutos, perco totalmente de vista o Fábio.
Afasto-me da pedra onde estávamos para aumentar o meu raio de visão e, nada.
Contorno várias vezes a pedra, e nada.
Não o consigo ver.
Entretanto procurando-o, passou bem meia hora sem que o veja.
Inicio uma série de mergulhos para o tentar avistar debaixo de água.
A visibilidade rondava os 5 metros, e varias vezes vou
aos -12m.
aos -12m.
Estou nisto talvez uma hora, começo a acumular nervos e cansaço.
Durante todo este tempo não fiz qualquer pausa, desesperadamente procuro o Fábio entre as vagas.
O meu coração bate tanto que quase me faz perder a calma.
Sou obrigado a puxar pelos galões, largar a parte emotiva e começar a ser totalmente racional.
Começo friamente a considerar um acidente.
Faço o que os livros mandam.
Análise após análise, e o sucessivo insucesso das minhas buscas no local, levam-me a nadar para terra que dista a 45 minutos, talvez 40 se nadar com toda a força.
Há dez anos atrás tinha uma forma física invejável, era capaz de tudo.
Percorro os 40 minutos de caminho pensando só numa coisa, o que vou eu dizer à mãe do meu amigo quando a vir.
Como é que foi possível ter sumido da minha vista mesmo à minha frente.
Entretanto vou pensando em todo o processo de alertas que poderia despoletar a partir do local onde estávamos em terra.
Considero por fim que poderá ter “sambado” e ter sido arrastado pela corrente para fora da nossa zona.
Retirando um acidente de sincope, pouco ou nada lhe poderia acontecer.
Para além do seu metro e oitenta e tal, ou noventa, tinha uma forma física completamente exuberante.
Por isso lhe meti o veneno da caça-submarina.
Por isso lhe meti o veneno da caça-submarina.
Era imperativo um barco para as buscas e estávamos num porto de pesca, desconhecia se seriam ou não cooperativos.
Á saída da agua estou totalmente exausto, a distancia foi feita em 30 minutos.
Não há viva alma no porto de pesca, meia dúzia de pequenas embarcações sem ninguém.
Resolvo apanhar os binóculos no carro e subir o monte anexo ao local.
Direccionando-me à zona da falésia, calculo que será mais meia hora de maratona, mas só a subir.
É só o tempo de tirar o lastro e o casaco do fato, nada mais.
Deixo todo o equipamento espalhado no chão.
Lanço-me nesta nova esperança de o conseguir ver dos 30 metros de altura da falésia.
A forma como subi o monte que dá acesso à falésia, ainda hoje, quando lá me desloco, coloco para mim mesmo essa questão.
Por fim, já lá no alto, quase nem forças tenho para estar de pé.
Percorro toda a vista possível do mar .
Não é preciso muito tempo para que, longe, talvez a uns 500 metros da costa, vejo uma pequena bóia. Parecia estar a meio caminho entre Cuba e a Costa Vicentina.
Fixo bem a focagem e vê-se nitidamente que nada em direcção a terra.
Dali, bem no alto, e bem alto, solto todas as palavras que não constam nos dicionários.
Desço calmamente, e venho para o porto de pesca descansar.
De nervos em franja, sinto passar a “modo” raiva em franja.
Mal o Fábio chega a terra e tira a cabeça fora de agua, um chorrilho de palavras dignas de um compendio Hard-Latim são proferidas a uma velocidade estonteante de parte a parte.
De todo este turbilhão quase em vias de facto, o Fábio dizia que eu o tinha abandonado no meio do mar.
Eu, tentava fazer-me ouvir e retorquia que o mentecapto assim que colocou a cabeça dentro de agua nunca mais a levantou e andou puramente à deriva todo o tempo.
De repente, como sempre, faz-se silencio. Levantando o braço esquerdo mostra no enfião um robalo com 4 Kg.
A conversa fica logo outra…….
- Epá…grande o peixito, conta lá…como estava ele …